sábado, 6 de setembro de 2008

A absurda Ligação Velha-Garcia voltou a ser pauta

Jurei comigo mesmo que não iria me manifestar a respeito de projetos eleitorais dos candidatos a prefeito. Até porque já tenho meus candidatos definidos.

Jurei, mas não vou cumprir!

No reprise do horário eleitoral desta sexta-feira, quase tive uma indigestão quando assisti o candidato Décio Lima voltar a insistir naquele absurdo que é a ligação Velha-Garcia, passando pelo Bom Retiro.

Alguns vão me questionar: o que eu tenho como isso?

Respondo: tudo! Foi aqui que nasci, me criei e voltei. Aqui é o meu lugar e de muitos blumenauenses que buscaram sossego neste paraíso.

Explico aos que não acompanharam.

Desde agosto de 2002, na gestão do atual candidato petista, venho acompanhando com atenção a movimentação de alguns políticos em torno do projeto, em especial de pessoas daquela administração.

Em março de 2003, quando o assunto voltou à pauta dos meios de comunicação de nossa cidade, tinha 35 anos e escrevi um artigo ao SANTA onde endossava manifestações de Bárbara Lebrecht. Naquela época não morava no bairro, mas meus pais sim. E tinha projetos de voltar. Fato que ocorreu em 2005.

Mas voltando ao ano de 2003, lembro-me que esta opinião compartilhada com minha vizinha, resultou num pedido para que a nossa extinta Associação de Moradores convocasse uma assembléia extraordinária, com a presença do presidente do IPPUB, Alexandre Gevaerd – árduo defensor deste absurdo.

O resultado: Ginástico do Pedro II lotado e pressão dos moradores do bairro, em sua esmagadora maioria, contrários ao projeto. A Prefeitura voltou atrás e nunca mais discutiu o assunto. O Décio saiu e o João Paulo assumiu. Por se tratar de um prefeito com bom senso, o tema ligação Velha-Garcia sempre foi tratado com cuidado.

Aliás, por tudo que já ouvi e li, o pensamento da atual administração é fazer este projeto sim, mas aproveitando uma estrada que já está aberta: a famosa “Transvianna”, sem interferência no Bom Retiro.

É importante, sim, uma ligação entre os dois bairros mais populosos da cidade, mas não se pode cometer crimes ambientais tão graves e, por conta disso, interferir nos destinos de um bairro cercado de morro por todos os lados.

Aos candidatos a prefeito faço um apelo para que esqueçam, deletem este projeto. O Bom Retiro não pode ser penalizado pela falta de planejamento no sistema viário central. Já temos muitos problemas (vide texto abaixo).

Seria o maior crime ambiental da história desta cidade.

O texto tá longo. Eu sei!

Mas fecho reproduzindo o ofício encaminhado, no ano de 2003, ao Gevaerd e que também foi publicado no SANTA, em forma de artigo.
"A absurda Ligação Velha Garcia


Todos nós sabemos o quanto é importante para Blumenau ter novas alternativas para o seu conturbado sistema viário e que há muitos anos clama por modernização. Mas optar por um projeto que será responsável pelo maior crime ecológico em 152 anos de história é, no mínimo, incoerente para uma cidade que ostenta a fama de ainda contar com uma extensa área verde cortando seu vale.

Exagero? Não! Basta analisarmos friamente o que se pretende fazer, cortando os morros do bairro Bom Retiro com túneis e estradas. Não foram raras às vezes que os moradores conviveram com quedas de barreiras em suas vias públicas. Na rua Augusto Otte, por exemplo, existem várias casas soterradas em conseqüência das chuvas que caíram na cidade durante as enchentes de 1984. Lá o tipo de terra que predomina é conhecido popularmente por “chamote” e quando desaba dos morros destrói tudo, sem dó e nem piedade.

Vale lembrar ainda que uma boa parte daqueles morros verdejantes são considerados área de preservação permanente. Propriedades de uma minoria privilegiada, que pouco ou quase nada investiu local, sequer na preservação de seus terrenos. Muito pelo contrário, atrapalharam quem queria desenvolver algum projeto. A rua Augusto Otte até hoje não é pavimentada e não pode contar com uma área de lazer num terreno baldio, graças à pressão contrária desses referidos proprietários. Sei do que estou falando, pois durante anos lutei sem sucesso por essas obras.

Será que dessa vez os moradores terão sua rua calçada? Ou apenas vão arcar com o ônus e ver a extensa área verde daquela via depredada por um projeto de tamanha dimensão? O Centro merece uma melhoria na qualidade do ar, mas aqueles moradores não podem ser privados desse direito.
Lembro que nenhum morador foi chamado pela Prefeitura para debater o tema. Preferiu lançar o projeto e divulgar na mídia, causando apreensão entre os moradores do bairro. É assim que se faz uma administração participativa? Apenas para ilustrar: para discutir o orçamento participativo, os moradores do Bom Retiro são convocados para participar das reuniões no final do bairro da Velha. Por que não se faz reuniões num local mais próximo, a exemplo do Colégio Pedro II?

Gostaria de cumprimentar a dirigente da Fatma, que isenta de qualquer pressão pela necessidade de obras, faz um alerta grave para os perigos de intervir nas encostas do Bom Retiro.

Para apimentar esse debate que virá pela frente, acrescento mais algumas questões:

1) Como a Prefeitura vai coibir a exploração imobiliária na região?
2) As áreas verdes do Bom Retiro deixarão de ser áreas de preservação permanente?
3) Como serão indenizados os proprietários dessas áreas verdes?
4) E os mesmos estão em dia com seus impostos ou a Prefeitura vai trocar os débitos pelas áreas?
5) E como ficam os moradores que terão que conviver o aumento do tráfego de veículos e com a poluição? Haverá algum tipo de indenização ou incentivo fiscal?
6) Por que a Prefeitura não retoma o projeto da “Transviana”, que não corta o Bom Retiro e cumpre o mesmo objetivo, que é ligar os bairros da Velha e Garcia?

Finalizando, sugiro que o projeto do túnel seja explicado de forma mais clara. Pelo que me consta, o morro da Companhia Hering não faz divisa com o morro da rua Augusto Otte. Entre os dois morros encontramos ruas, a exemplo da Hermann Hering, que corta todo o bairro, além de residências. Também verificamos a existência de um ribeirão a céu aberto, que por sinal é a causa das enchentes no bairro e exala um cheiro nada agradável, além do córrego onde são despejados a rede de esgoto das ruas Augusto Otte, Tiradentes, Frei Ernesto Emmendoorfer e Porto Alegre.

Espero ter dado a minha contribuição a este novo grande debate que se estabelece na cidade. Vamos analisá-lo sem paixões ou pressa. O que pode ser a redenção política ou econômica de uns poucos, poderá se transformar na desgraça de muitos.


Sem mais,




GIOVANI VITÓRIA, 35 anos
Jornalista
Cidadão blumenauense, nascido e criado no bairro Bom Retiro"

Texto publicado em março de 2003, no Jornal de Santa Catarina

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